domingo, 16 de agosto de 2009

Biografia de Gregório de Matos


Gregório de Matos

Poeta barroco brasileiro nasceu em Salvador/BA, em 20/12/1623 e morreu em Recife/PE em 1696. Amado e odiado, é conhecido por muitos como "Boca do Inferno", em função de suas poesias satíricas, muitas vezes trabalhando o chulo em violentos ataques pessoais. Influenciado pela estética, estilo e sintaxe de Gôngora e Quevedo, é considerado o verdadeiro iniciador da literatura brasileira.

De família abastada (seu pai era proprietário de engenhos), pôde estudar com os jesuítas em Salvador. Em 1650, com 14 anos, abala para Portugal, formando-se em Direito pela Universidade de Coimbra em 1661. É nomeado juiz-de-fora em Alcácer do Sal (Alentejo) em 1663. Em 1672 torna-se procurador de Salvador junto à administração lisboeta.

Volta ao Brasil pouco depois de 1678. Quarentão e viúvo, tenta acomodar-se novamente na sociedade brasileira, tarefa impossível. Apesar de investido em funções religiosas, não perdoa o clero nem o governador-geral (apelidado "Braço de Prata" por causa de sua prótese) com seu sarcasmo. Mulherengo, boêmio, irreverente, iconoclasta e possuidor de um legendário entusiasmo pelas mulatas, pôs muita autoridade civil e religiosa em má situação, ridicularizando-as de forma impiedosa.

Provocando a ira de um parente próximo do governador-geral do Brasil, foi embarcado à força para Angola (1694), pois corria risco de vida. Na África, curte a dor do desterro, espanta-se diante dos animais ferozes, intriga-se com a natureza, dá vazão ao seu racismo e se arrisca à perda da identidade. Sua chegada à Luanda coincide com uma crise econômica e com uma revolta da soldadesca portuguesa local. Gregório interferiu, pacificou o motim, acalmou (ou traiu?) os revoltosos e, como prêmio, voltou para o Brasil, para o Recife, onde terminaria seus dias.

Sua obra poética apresenta duas vertentes: uma satírica (pela qual é mais conhecido) que, não raro, apresenta aspectos eróticos e pornográficos; outra lírica, de fundo religioso e moral.

Ao contrário de Vieira, Gregório não se envolveu com questões magnas, afetas à condução da política em curso: não lhe interessavam os índios, mas as mulatas; não o aborreciam os holandeses, mas os portugueses; não cultivou a política, mas a boêmia; não "fixou a sintaxe vernácula", mas engordou o léxico; não transitou pelas cortes européias, mas vagabundeou pelo Recôncavo.

É uma espécie de poeta maldito, sempre ágil na provocação, mas nem por isso indiferente à paixão humana ou religiosa, à natureza, à reflexão e, dado importante, às virtualidades poéticas duma língua européia recém-transplantada para os trópicos. Ridicularizando políticos e religiosos, zombando da empáfia dos mulatos, assediando freiras e mulatas, ou manejando um vocabulário acessível e popular, o poeta baiano abrasileirou o barroco importado: seus versos são um melting pot poético, espelho fiel de um país que se formava.

Finalmente, o que muitos não devem saber é que Gregório também é considerado antecedente do nosso cancioneiro, pois fazia "versos à lira", apoiando-se em violas de arame para compor solfas e lundus. O lundu, criado nas ruas, tinha ritmo agitado e sincopado, e melodia simples com resquícios modais, sendo basicamente negro. Do lundu vieram o chorinho, o samba, o baião, as marchinhas e os gêneros de caráter ritmado e irreverente.

Obras de Gregório de Matos

Obras Poéticas de Gregório de Matos

Soneto À morte de Afonso Barbosa da Franca

Alma gentil, esprito generoso,
Que do corpo as prisões desamparaste,
E qual cândida flor em flor cortaste
De teus anos o pâmpano viçoso.
Hoje, que o sólio habitas luminoso,
Hoje, que ao trono eterno te exaltaste,
Lembra-te daquele amigo a quem deixaste
Triste, absorto, confuso, e saudoso.
Tanto tua virtude ao céu subiste,
Que teve o céu cobiça de gozar-te,
Que teve a morte inveja de vencer-te.
Venceste o foro humano em que caíste,
Goza-te o céu não só por premiar-te,
Senão por dar-me a mágoa de perder-te.

InconstÂncia dos bens do mundo

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constancia,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

Biografia de Antônio Vieira



Padre Antônio Vieira

Padre, orador sacro, missionário, diplomata e escritor português nascido na Freguesia da Sé, em Lisboa, cuja extraordinária obra e religiosidade sempre estiveram ligadas a fatos econômicos e políticos. Filho de um servidor do governo colonial, de origem modesta e com ascendência africana, destacado como funcionário, para trabalhar na Bahia, no Brasil. Morou em Salvador, na Bahia desde seis anos, e fez toda sua educação e formação religiosa no Colégio dos Jesuítas, na então capital da Colônia. Aos 15 anos saiu da casa paterna e ingressou (1623) na Companhia de Jesus, onde se revelou brilhante. Dono de rara inteligência, aos dezessete anos já dominava o latim, a filosofia e a teologia, completou o noviciado (1626) já ensinando retórica na escola de Olinda e foi encarregado de redigir a Carta ânua, relatório dos trabalhos da Companhia.

Ordenado (1635), começou sua carreira de pregador além da luta contra o domínio de Maurício de Nassau, forçado a deixar a Bahia (1638). Iniciando sua atividade de orador sacro, seus sermões desse tempo eram patrióticos, destinados a estimular a luta contra os invasores holandeses. Junto com o filho do governador, levou a Lisboa a adesão do Brasil a D. João IV (1641), colocando-se a serviço do rei como diplomata. Com o apoio do rei criou a Companhia Geral do Comércio do Brasil (1649), que visava conciliar Portugal e os Países Baixos contra os interesses britânicos, e trabalhou pelo plano, como embaixador, junto ao governo holandês, ao cardeal Mazarin e a judeus da Holanda e de Roma. Porém o projeto fracassou devido, em parte, à insurreição pernambucana, em parte a reações da própria igreja contra a suposta heresia de misturar dinheiro católico e judeu. De volta ao Brasil, dedicou-se a missões de catequese no Pará e no Maranhão (1653-1661).

Dominando sete idiomas indígenas, passou a trabalhar contra o cativeiro e o trabalho forçado dos índios, atraindo a ira dos proprietários de terra maranhenses. Com a morte de D. João IV (1856), o defensor dos judeus e dos índios foi perseguido e acusado de heresia. Levado a Portugal, preso, encarcerado e, condenado pelo Santo Ofício como herege, ficou mais de dois anos na prisão (1666-1667). Porém, sua pena foi posteriormente anulada e, beneficiado pela anistia, depois da deposição de Afonso VI (1669), foi para Roma e, pregando em italiano, fez campanha contra a Inquisição. Também tentou constituir uma nova companhia de comércio, com capitais de cristãos-novos, a fim de favorecer as missões jesuítas no Oriente. Desiludido da empresa, voltou a Lisboa (1675) e, depois, à Bahia (1681). No Colégio da Bahia e na quinta do Tanque, viveu a última fase da vida, inteiramente dedicada à revisão dos sermões e cartas e à conclusão da Clavis prophetarum, onde fez profecias, postumamente publicadas com o título de História do futuro (1718) e morreu em Salvador, Bahia, aos 89 anos de idade dos quais 52 passados no Brasil.

Seus mais de 200 Sermões, obra-prima de pensamento e expressão, foram reunidos em 15 volumes na edição do Porto (1908-1909), e as Cartas, mais de 500, foram organizadas e anotadas por João Lúcio de Azevedo em três volumes, na edição de Coimbra (1925-1928). Como orador sacro deixou fama enorme, não só no Brasil como em Portugal e na Itália, e seus sermões atraiam grande número de ouvintes. Hoje é considerado um dos clássicos de nossa língua e da nossa literatura e leitura obrigatória de quantos queiram conhecer as riquezas do idioma de Camões.