domingo, 16 de agosto de 2009

Obras de Bento Teixeira

Obras de Bento Teixeira

Prólogo

Dirigido a Jorge d’Albuquerque Coelho, Capitão e Governador da Capitania de Pernambuco, das partes do Brasil da Nova Lusitânia, etc.

Se é verdade o que diz Horácio, que Poetas e Pintores estão no mesmo predicamento; e estes para pintarem

perfeitamente uma Imagem, primeiro na lisa távoa fazem rascunho, para depois irem pintando os membros dela extensamente, até realçarem as tintas, e ela ficar na fineza de sua perfeição; assim eu, querendo dibuxar com obstardo pinzel de meu engenho a viva Imagem da vida e feitos memoráveis de vossa mercê, quis primeiro fazer este rascunho, para depois, sendo-me concedido por vossa mercê, ir mui particularmente pintando os membros desta Imagem, se não me faltar a tinta do favor de vossa mercê, a quem peço, humildemente, receba minhas Rimas, por serem as primícias com que tento servi-lo. E porque entendo que as aceitará com aquela benevolência e brandura natural, que costuma, respeitando mais a pureza do ânimo que a vileza do presente, não me fica mais que desejar, se não ver a vida de vossa mercê aumentada e estado prosperado, como todos os seus súditos desejamos.

Beija as mãos de vossa mercê: (Bento Teixeira)

Seu vassalo.

Bento Teixeira

Pelos ares retumbe o grave acento,

De minha rouca voz, confusa, e lenta,

Qual trovão espantoso, e violento,

De repentina, e hórrida tormenta.

Ao rio de Aqueronte turbulento,

Que em sulfúreas borbulhas arrebenta,

Passe com tal vigor, que imprima espanto,

em Minosrigoroso, e Radamanto.

De lanças, e d'escudos encantados,

Não tratarei em numerosa rima,

Mas de barões ilustres afamados,

Mais que quantos a Musa não sublima.

Seus heróicos feitos extremados

Afinarão a dissoante prima,

Que não é muito tão gentil sujeito,

Suprir com seus quilates meu defeito.

Não quero no meu Canto alguma ajuda,

Das nove moradoras do Parnaso,

Nem matéria tão alta quer que aluda,

Nada ao essencial deste meu caso.

Porque dado que a forma se me muda,

em falar a verdade, serei raso,

Que assim convém fazê-lo, quem escreve,

Se a justiça quer dar o que se deve.

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